Jardim das Palavras

O amor é a essência de tudo, sem amor só há guerra e divisas...

Textos



“A CASA DE FÁBIO”
 
     Da janela do terceiro andar do meu apartamento vejo diariamente o panorama da cidade, que evolui a cada dia que passa.
     Dias ensolarados com pássaros esvoaçantes, cantantes e encantadores, adoro observá-los.
     Aprecio o movimento simples da rua, com carros circulando, outros estacionados, os transeuntes num vai e vem, os catadores suados puxando o carrinho repletos de lixo para reciclagem.
     Gosto da simplicidade do cotidiano que vejo, mas o que mais me chama a atenção é Fábio e sua casa.
     Fábio é um homem simples, magro, calvo, fumante, tem um irmão gêmeo, um velho cachorro muito apegado a ele e dono de um grande coração.
     Ele é extremamente prestativo, gostava de cuidar da rua voluntariamente, conservando-a sempre limpinha, mas certa manhã de domingo foi atacado por um andarilho e fraturou uma das pernas. Foi necessária uma cirurgia e durante muito tempo ficou impossibilitado de andar.  Agora Fábio carrega a sequela do ocorrido e anda mancando.
     Mesmo assim Fábio e sua casa continuam sendo ponto de referência da rua, ou melhor, creio que do bairro.
     Sua casa é antiga, com trincas na parede, tem uma pequena varanda, um pé de arbusto na frente e cercada por pequena grade.
     Quanta simplicidade! Mas que magnitude!
     A casa de Fábio é a mais concorrida e acolhedora da rua, está sempre cheia de coisas.
     As pessoas deixam de tudo na casa de Fábio, carros, motos, mobílias usadas, materiais de construção, cachorros, enfim mais parece um depósito de variedades. Acredito que as mobílias ele vende, mas o resto deve ser pura cortesia...
     Isso me deixa intrigada, gostaria de saber por que todas as pessoas recorrem à casa de Fábio e servem-se dela. 
     Na época das chuvas, quando nuvens negras e impiedosas fazem uma guerrilha no espaço, causando estrondos e despejando uma aguaceira danada, a casa de Fábio sempre fica alagada. As águas invadem a casa sem pedir licença, obrigando-os a se retirarem dela e esperarem na rua até se escoarem.
     Fico com muita pena de Fábio, do seu irmão e do seu cachorro, pois nessas horas não vejo ninguém batendo à sua porta para oferecer-lhes acolhida.
Bryzza
Enviado por Bryzza em 05/05/2010
Alterado em 05/05/2010


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