NOITE DE ANGÚSTIA
Vasculhei as gavetas, procurei seu retrato,
revivi velhas cenas diante do espelho,
depois fechei a janela do meu íntimo
e tranquei-me na cela de meu ato.
Abri um pouquinho o vendaval dos sonhos
e deixei escapar vestígios de ilusões,
embeveci-me torpidamente de uma lembrança
desmerecida, descabida e desventurosa.
Oh! que noite duvidosa!
Apertei minha mão de poeta que escorrega
ousada, pelas folhas de papel nuas, sem graça
e tranco a desgraça, recuso os artíficios
que o passado sustenta entre as franjas do tempo...
... Ainda sei sorrir...
Sorriso de um sentido aniquilado,
tapado, calejado, esfomeado de anseios mil,
projeto de um caminho semi-aberto,
incerto, qual um vento que surgiu.
Surgiu e ora sacode as cicatrizes,
ora desanda a soprar cinzas cinzentas,
levanta, ergue o pó mostrando as brasas,
queimando, sufocando peito adentro...
Eu lúgubre, insípida e sem brilho,
destrilho pela estrada malfadada,
sereno a chorar na madrugada,
molhada de indefesos sentimentos...
(imagem do google)